quinta-feira, 16 de agosto de 2012

um dia de merda - luis fernando verissimo

 
Aeroporto de Buenos Aires, 15:30.
Pequeno mal-estar causado por uma cólica intestinal, mas nada que uma urinada e um peidinho não aliviasse. Mas, atrasado para pegar o ônibus que o levaria para o outro aeroporto da cidade, de onde partiria o vôo para Cordoba, resolveu segurar as pontas.
-"Afinal de contas, sao só uns 15 minutos de viagem.
Chegando lá, tenho tempo de sobra para dar aquela mijadinha esperta". "Tranquilo. O aviao só sai 'as 16:30".
Entrando no Onibus, sem sanitários, sentiu a primeira contração e tomou consciência de que sua gravidez fecal chegara ao nono mês e que faria um parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do outro aeroporto. Virou para o amigo que o acompanhava e sutil, falou:
-"Cara, mal posso esperar para chegar na merda do aeroporto porque preciso largar um barro."
Nesse momento, sentiu um urubu beliscando sua cueca, mas botou o esfincter para trabalhar e este segurou a onda. O ônibus nem tinha começado a andar quando para seu desespero, uma voz em castelhano disse pelo alto-falante:
-"Senhoras e senhores, nossa viagem entre os dois aeroportos levara em torno de 1 hora".
Ai o urubu ficou maluco querendo sair a qualquer custo! Fez um esforço hercúleo para segurar o trem merda que estava para chegar na estação cu a qualquer momento. Suava em bicas.
Seu amigo percebeu e, como bom amigo que era, aproveitou para tirar o sarro.
O alívio provisório veio em forma de bolhas estomacais indicando que pelo menos por enquanto as coisas tinham se acomodado. Tentava se distrair vendo a paisagem ma só conseguia pensar em um banheiro, não com uma privada, mas com um vaso sanitário. Tão branco e tão limpo que alguém poderia botar seu almoço nele.
E o papel higiênico então... Branco e macio e com textura e perfume e ...
- "Oops!"
Sentiu um volume almofadado entre seu traseiro e o assento do ônibus e percebeu, consternado, que havia cagado. Um cocô sólido e comprido daqueles que dão orgulho de pai ao seu autor. Daqueles que da vontade de ligar pros amigos e parentes e convidá-los à apreciar, na privada, tão perfeita obra. Dava pra expor na bienal. Mas sem dúvida, não nesse caso.
Olhou para o amigo, procurando um pouco de solidariedade, e confessou sério:
-"Cara, caguei."
Quando o amigo parou de rir, uns cinco minutos mais tarde, aconselhou-o a ficar no centro da cidade, escala que o ônibus faria no meio da viagem, e que se limpasse em algum lugar. Mas ele resolveu que ia seguir viagem, pois agora estava tudo sob controle.
-"Foda-se, me limpo no aeroporto,"-pensou- "pior que isso nao fico".
Mal o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou forte. Ele arregalou os olhos, segurou-se na cadeira mas nao pode evitar e sem muita cerimônia ou anunciaçao, veio a segunda leva de Merda. Desta vez como uma pasta morna. Foi merda para todo que é lado, borrando, esquentando e melando a bunda, cuecas, barra da camisa, pernas, panturrilhas, calças, meias e
sapatos. E mais uma cólica anunciando mais merda, agora líquida, das que queimam o fiofo do freguês ao sair rumo a liberdade. E depois um peido tipo bufa, que ele nem tentou segurar, afinal de contas o que era um peidinho pra quem já estava todo cagado?. Já o peido seguinte foi do tipo que pesa e ele se cagou pela quarta vez.
Lembrou-se de um amigo que certa vez estava com tanta caganeira que resolveu botar modess na cueca, mas colocou com as linhas adesivas viradas para cima e quando foi tira-lo, levou metade dos pelos do cu junto. Mas era tarde demais para tal artifício absorvente. Tinha mestruado tanta merda que nem uma bomba de cisterna poderia ajuda-lo a limpar a
sujeirada.
Finalmente chegou ao aeroporto e saindo apressado com passos curtinhos, suplicou ao amigo que apanhasse sua mala no bagageiro do ônibus e a levasse ao sanitário do aeroporto para que ele pudesse trocar de roupas. Correu ao banheiro e entrando de box em box, constatou a falta de Papel higiênico em todos os cinco. Olhou para cima e blasfemou:
-"Agora deu, né?"
Entrou no último, sem papel mesmo, e tirou a roupa toda para analisar sua situaçao (que concluiu como sendo o fim do poço) e esperar pela mala da salvação com roupas limpinhas e cheirosinhas e com ele uma lufada de dignidade no seu dia. Seu amigo entrou no banheiro com pressa, tinha feito o "check-in" e ia correndo tentar segurar o vôo. Jogou por cima do box o
cartao de embarque e uma maleta de mao e saiu antes de qualquer protesto.
Ele tinha despachado a mala com roupas. Na mala de mão só tinha um pulover de gola "V". A temperatura em Buenos Aires era proximadamente 35 graus.
Desesperado, começou a analisar quais de suas roupas seriam, de algum modo, aproveitáveis. Suas cuecas, jogou no lixo. A camisa, a mesma historia. As calças estavam deploráveis e assim como suas meias, mudaram de cor, tingidas pela merda. Seus sapatos estavam nota 3, numa escala de 1 a 10. Teria que improvisar. Como a necessidade é a mãe da invenção, entao ele transformou uma simples privada em uma magnífica maquina de lavar.
Virou as calças do lado avesso, segurou-a pela barra, e mergulhou a parte atingida na água.
Começou a dar descarga até que o grosso da merda se desprendeu. Estava pronto para embarcar. Saiu do banheiro e atravessou o aeroporto em direçao ao portão de embarque trajando sapatos sem meia, as calças do lado avesso e molhadas da cintura ao joelho (não
exatamente limpas) e o pulover gola "V", sem camisa.
Mas caminhava com a dignidade de um lorde. Embarcou no avião, onde todos os passageiros estavam esperando o "RAPAZ QUE ESTAVA NO BANHEIRO", e atravessou todo o corredor até a sua poltrona ao lado do amigo que sorria. A aeromoça aproximou-se e perguntou se precisava de algo. Ele chegou a pensar em pedir uma gillete para cortar os pulsos ou 130
toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossa transbordante, mas decidiu nao pedir:
-"NADA, OBRIGADO, EU SO QUERO ESQUECER ESTE DIA DE MERDA"
(Luís Fernando Veríssimo)

27 comentários:

  1. Respostas
    1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk so quero esquecer esse dia e merda kkk

      Excluir
  2. Quando achamos que estamos na merda verificamos que existe estado pior. Kkkk

    ResponderExcluir
  3. So Fernando Veríssimo seria capaz de uma descrição tão perfeita.kkkkkkk

    ResponderExcluir
  4. Pior que isso só o estragar em uma estrada deserta sem ninguém pra ajudar e sem água e sem carga no telefone

    ResponderExcluir
  5. Espere aí que vou dar uma cagada e já volto

    ResponderExcluir
  6. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkj

    ResponderExcluir
  7. BAH VOU LEVAR FRALDAS GERIATRICAS O PROXIMO PODE SER EU

    ResponderExcluir
  8. Crônica mais engraçada que existe nesse mundo kkkkkkkkk

    ResponderExcluir
  9. O texto não e do Veríssimo, ele chegou a comentar na revista Época décadas atrás, mas ainda associam o texto a ele...
    Mesmo assim, rio sempre q releio kkkkkkk

    ResponderExcluir
  10. Kkk.ainda bem que isso ñ escolhe qdo acontece homem mulher branco negro rico ou pobre...kkk

    ResponderExcluir
  11. Em 2013 quando li isso dentro do Botafogo Praia Shopping! Chorei e passei mal de tanto que ri.
    As pessoas riam das minhas gargalhadas e sem saberem do que se tratava.
    Pois um cara com 1,81 de altura com uma folha de A4 na mão lendo issors

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Li várias publicações. Foi no aeroporto Santos Dumont. Aqui menciona Buenos Ayres ....

      Excluir
  12. Este texto é muito bom , ri muito .

    ResponderExcluir
  13. Senti saudade do texto e tornei a ler! Chorei de rir😂😂😂

    ResponderExcluir
  14. É muito triste essa situação,eu passei por isso,e peço á Deus que nunca nais

    ResponderExcluir